quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Memórias...




Dr. Cazuza com mestres nos EUA


Entre os dias 15 e 18 de dezembro de 1989 as professoras Alzira Alves de Abreu, Lucia Lippi Oliveira e Maria Stella de Amorim entrevistaram o professor Luiz de Aguiar Costa Pinto para Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Eis o que dissera de importante, para essa memória: Lúcia Lippi Oliveira - Professor, eu gostaria de começar voltando um pouco à Bahia. Que o senhor falasse sobre local e data de nascimento, um pouco sobre a sua família, se tinha ou não relações com a política baiana. L.A. Costa Pinto - "É uma longa história. Acontece que eu sou bahiano. Acontece que ela não é. Na verdade, a minha família vem de longe. Na Bahia a gente acha graça quando se fala que paulista é quatrocentão... O antepassado mais remoto, de que nós temos conhecimento era o Conde de Bastos. O nome da minha família está no Almanaque de Gotha. O Almanaque de Gotha era o almanaque feito na cidade de Gotha na Alemanha, onde estão registrados todas as famílias de alta estirpe. Ele morreu na Batalha de Alcácer-Quibir, no norte da África. Era o braço direito do Rei Sebastião de Portugal. Lá morreu ele. Desapareceu no deserto e nunca mais se soube deles. Daí a expressão "Sebastianismo", porque há muito português que confia que o Dom Sebastião ainda vai voltar. O primeiro Costa Pinto que chegou na Bahia foi Cristóvão Costa Pinto. Ele era almoxarife. E almoxarife naquele tempo era uma espécie de Ministro da Fazenda, do primeiro Governador-geral do Brasil. Martim Afonso de Souza. Martim Afonso de Souza se instalou na Bahia que foi a primeira capital do Brasil, como sabem. Lá se instalaram. A família tinha engenhos no Recôncavo, o Quindu e o Brochado. Meu pai e minha mãe passaram a lua-de-mel num deles, não me lembro qual. Quando os Holandeses invadiram a Bahia, parte do quartel-general ficou nos engenhos da minha família. O Vanderlei Pinho, historiador bahiano num lindo livro - "História do Engenho do Recôncavo" diz que lá ficou o quartel-general, o comandante das tropas que repeliu a invasão holandesa. Eu também escrevi um livro sobre o Recôncavo: Recôncavo Laboratório de uma Experiência Humana. O meu avô - Joaquim da Costa Pinto - foi Senador depois da República. Lá em Salvador existe uma rua Senador Costa Pinto. Meu pai foi deputado estadual. Ele era vice-presidente da Câmara. O presidente era Prefeito de Ilhéus, passava mais tempo em Ilhéus do que em Salvador, e meu pai quem era praticamente o presidente da Câmara. Ele casou-se no primeiro matrimônio, a esposa faleceu depois de casada. Ele se casou novamente e residiu numa bonita casa no Campo Grande. Quem conhece Salvador sabe. Campo Grande é uma praça muito importante, é a Praça 2 de Julho. 2 de Julho é quando os portugueses foram expulsos da Bahia. E nessa casa - depois foi vendida ao Estado - por muitos anos funcionou a Assembléia Estadual. O meu pai ganhou da Rockfeller Foundation uma bolsa de estudos para tirar o seu título de doutor em medicina pública. Ele era primeiro professor de Medicina Legal e foi assistente do Nina Rodrigues. Publicaram trabalhos juntos, trabalhos que até hoje são citados. Depois ele mudou quando voltou dos Estados Unidos para a cadeira de Higiene. Depois foi eleito diretor da Faculdade de Medicina e isso liquidou com a carreira científica. Porque as obrigações burocráticas eram tão grandes que não tinha tempo de fazer pesquisas. Ele dava aula... Ele tem trabalhos muito interessantes, um é o famosíssimo: "a Cristalização das Manchas de Sangue". Ele fez uma série de pesquisas. O sangue cristaliza, as manchas de sangue quando há um crime..., então ele provou que a cristalização varia com a idade, varia com o sexo, mas não varia com a cor. Ele era um anti-racista agressivo. Era a única coisa que não variava. Era o mesmo tipo de cristalização se fosse branco, preto, amarelo, azul, verde...”

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